ANTICRISTO

Ontem de manhã passou um carro-som próximo a minha casa. Fazia propaganda de uma igreja, o locutor dizia:

-Você que está com insônia, com depressão, com doença sem cura, está infeliz, perdeu o marido, tem só derrota na vida... venha para nosso culto...

Era um longo rosário de desgraça que o locutor desfiava.

É um discurso comum em algumas religiões, esse da desgraça.

Sempre que ouço esse tipo de coisa lembro-me de Nietzsche. Ter lido O ANTICRISTO do filósofo alemão ajudou-me a sedimentar como um conhecimento, algo que eu só sentia.

Nunca gostei da associação de Cristo com derrota, desgraça.

Nietzsche diz que o cristianismo é uma religião de derrotados, de sofredores, é uma religião que prega o devir, pois o presente é de sofrimento. O mundo do cristão é o do além, não o desta terra. O sonho dos cristãos é o reino do céu.

É fácil de entender essa mentalidade do cristianismo, esta doutrina nasce do judaísmo que também é uma religião do devir pela história do povo judeu, pensar que o amanhã seria melhor, dava esperanças ao povo para continuar trabalhando no cativeiro, na diáspora.

Se um dia eu criasse uma igreja, o carro-som da propaganda, anunciaria algo bem diferente, seria assim:

- Você que está saudável, alegre, disposto, que é vencedor, que só tem sucesso na vida...venha para o nosso culto...

Deus abençoa a todos, ricos ou pobres, felizes ou infelizes, o encontro com o divino deve ser um júbilo, nunca um altar de mazelas mesmo que não estejamos bem.

Iria fazer uma igreja para vencedores, não para derrotados, seguiria alguns ensinamentos de Nietzsche.