Rosa

Pixinguinha

 




Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer.


"Rosa" de Pixinguinha é uma das, se não a, mais linda música composta por um brasileiro. O que encanta em sua letra é a simplicidade vocabular e das construções sintáticas que mostram que a arte literária não está no rebuscado naquela comcepção parnasiana de literatura, está antes na simplicidade.

Pixinguinha mostra seu gênio ao organizar nesta devida ordem tais palavras suscitando um sentimento de sublimação.

Em verdade essa não é uma herança só do mestre, mas do samba de raiz do qual ele é um dos maiores representantes.

Os sambistas eram homens simples, de vida simples, de letras simples, mas de celeste poesia.